Cresce participação feminina no cooperativismo brasileiro
Em entrevista ao Instituto Fenasbac, jovem líder do cooperativismo financeiro avalia o cenário e aponta desafios de diversidade e equidade a serem vencidos no setor
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1 ano ago
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19/10/2023 –
Em entrevista ao Instituto Fenasbac, jovem líder do cooperativismo financeiro avalia o cenário e aponta desafios de diversidade e equidade a serem vencidos no setor
Segundo dados do Anuário do Cooperativismo 2023, feito pelo Sistema OCB, houve crescimento da participação feminina no cooperativismo em 2022, com as mulheres representando 41% dos mais de 20 milhões de cooperados no Brasil. Em 2020 e 2021, esse percentual permaneceu estável em 40%.
Também houve aumento da participação feminina em cargos de liderança nas cooperativas. Em 2021, 20% dos dirigentes de cooperativas eram mulheres. No ano seguinte, esse número subiu para 22%, sendo o segmento de crédito um dos que mais contribuíram para esse aumento.
No estado do Ceará, a participação feminina chegou a superar a masculina, atingindo 58%. Os setores do cooperativismo com maior presença de mulheres cooperadas são, segundo o Anuário, consumo, crédito, saúde e trabalho, e produção de bens e serviços.
“É difícil alcançar cargos mais altos em um ambiente que é majoritariamente masculino e pouco jovem, pois são muitas barreiras e etapas a serem vencidas”, afirma a líder cooperativista Karen de Lucena Cavalcanti, de 35 anos, que é presidente do Sicoob Central Nordeste, tendo ingressado no sistema há mais de 13 anos como estagiária, em entrevista concedida ao Instituto Fenasbac.
Outro dado do Anuário que levanta a questão da equidade de gênero no cooperativismo é a porcentagem de empregados homens e mulheres nas cooperativas. Em 2022, houve um aumento de 15% da participação feminina em relação a 2021, com o número de colaboradoras atingindo 51% da força de trabalho cooperativa e ultrapassando a participação masculina.
“Eu acredito que o cooperativismo já tem esse ambiente muito favorável à igualdade de gênero, porque faz parte da cultura do cooperativismo a valorização das pessoas e esse viés de diversidade”, explica Karen. A líder acrescenta que o movimento tem sido em direção à necessidade de sucessão, com maior participação das mulheres na liderança. “Precisamos participar cada vez mais de cargos de alta liderança”, completa.
Cooperativismo jovem e diverso
Outro dado destacado pelo Anuário é o quão “madura” é a liderança das cooperativas brasileiras. Segundo os dados do estudo, 60% dos homens líderes de cooperativas têm mais de 50 anos, enquanto, entre as mulheres líderes, o percentual é de 44%.
“Um dos grandes desafios das cooperativas financeiras hoje é renovar sua base de cooperados, concorrendo com grandes bancos tradicionais e fintechs, muito populares entre o público jovem”, diz Karen. “Com a tecnologia quebrando barreiras, começamos a perceber que é um público em potencial para ingressar no cooperativismo, mas ainda não conseguimos nos comunicar de forma eficiente com ele”.
“Apesar deste desafio, estamos tomando medidas para alcançá-lo, apresentando o cooperativismo financeiro como uma alternativa sustentável”, complementa.
Mais de 80% do total de líderes no cooperativismo tem mais de 40 anos. Segundo o estudo, isso indica a importância de traçar planos de sucessão para garantir o sucesso e a continuidade das cooperativas.
Karen ressalta a importância da diversidade em todas as “bases da pirâmide” das cooperativas. “Se, no topo das organizações, há baixa diversidade entre os tomadores de decisões, fica difícil conseguir acertar o ponto de atrair públicos diversos para o cooperativismo, de modo que essas pessoas se sintam, de fato, participantes do negócio”. Para ela, quando não há diversidade, os grupos não se sentem representados por quem está na alta liderança.
A presidente e diretora executiva da Sicoob Central Nordeste vai além e afirma que a luta pela equidade de gênero não se dissocia da necessidade de abrir espaço aos jovens. “Precisamos fazer com que as pessoas acreditem que uma força de trabalho feminina e jovem é positiva, bem-sucedida e gera resultado”, diz a gestora.
Por fim, Karen avalia que o cooperativismo “é para todo mundo” e que isso precisa estar refletido dentro da cultura e gestão das cooperativas financeiras. “Temos avançado bastante nisso, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, pontua. “Quando falamos que cooperativismo é para todo mundo, precisamos, primeiro, aprender a nos comunicar com esses grupos para fazer isso chegar de forma simplificada e acessível para todos os interessados pelo modelo”.